Defensivos

Syngenta chacoalha mercado de bionematicidas com registro do Tymirium

Multinacional obteve registro para a molécula, que cumpre a função de nematicida e fungicida ao mesmo tempo. Para especialistas, produto é disruptivo

Plantio de soja; Syngenta chacoalha mercado de nematicidas

A Syngenta está prestes a deflagrar uma disputa feroz no mercado de nematicidas, desafiando aquela que parecia ser uma das maiores fortalezas da indústria de defensivos biológicos no Brasil.

Na semana passada, a gigante controlada pela ChemChina obteve registro da Anvisa para o Tymirium, uma molécula química que levou dez anos para ser desenvolvida e promete chacoalhar um dos mercados mais rentáveis para as principais fabricantes de biológicos do País.

“Em mais de 20 anos no manejo de nematoides, nunca tivemos contato com um produto que tivesse essa performance. Essa molécula é realmente disruptiva”, disse o professor Fernando Godinho, doutor em nematologia e pesquisador do Instituto Federal Goiano.

As pesquisas com o Ciclobutrifluram, nome do ingrediente ativo desenvolvido pela Syngenta, ilustram o potencial competitivo do Tymirium, que cumpre a função de nematicida e fungicida ao mesmo tempo.

Os dados sugerem uma produtividade adicional de 5 sacas de soja por hectare e 14 sacas de milho por hectare em comparação ao padrão da agricultura (leia-se, bionematicidas), disse Carlos Tonet, gerente de marketing e produtos da Syngenta, em entrevista ao The AgriBiz.

Em um mercado de margens apertadas, parece improvável que o Tymirium não ganhe tração rapidamente tamanho o benefício potencial. Para isso, no entanto, a Syngenta ainda precisa do registro dos produtos formulados.

A expectativa é que essa última fase de registros ocorra ainda neste ano, permitindo que a molécula estreie comercialmente na próxima safrinha de milho. No caso da soja, é mais provável que o uso do Tymirium entre com força apenas na safra 2026/27 — o prazo parece curto para uma estreia já na temporada 2025/26.

O produto também poderá ser usado em culturas perenes, como café e cana-de-açúcar, além de lavouras de algodão e de hortifrútis.

Preços

Na Syngenta, a expectativa com os resultados do Tymirium é gigantesca. Segundo Tonet, a nova molécula traz uma inovação tão grande no tratamento de sementes quanto foi o lançamento do Cruiser, uma molécula com função inseticida usada no tratamento de sementes.

Neste momento, a Syngenta ainda está definindo a estratégia de preços do Tymirium, disse Tonet. “Nos bastidores, fala-se de algo entre US$ 35 e US$ 40 como referência”, afirmou à reportagem uma fonte que navega com desenvoltura no mercado de insumos agrícolas.

Nesses níveis de preços, pode fazer bastante sentido para um agricultor trocar o bionematicida usado no tratamento da semente pelo Tymirium, nas contas dessa mesma fonte. “Se estamos falando de 5 sacas a mais de soja, a conta fecha porque aumenta em 33% a rentabilidade”, continuou a fonte, citando o preço médio de alguns dos bionematicidas na ponta (cerca de R$ 100 por hectare, o equivalente a US$ 17).

O impacto para os biológicos

Ao desafiar a indústria de biológicos em produtividade, fator que ainda hoje é o principal responsável pela adoção dos bioinsumos, o Tymirium vai exigir uma reposta de inovação dos concorrentes.

“Naturalmente, as indústrias químicas reagiriam a um mercado que foi dominado pelo biológico. Esse movimento de inovação das químicas é importante para todo o setor elevar a barra. É um estímulo para trazermos uma nova geração de biológicos para atender os clientes”, reagiu Jonas Hipólito, CEO da Biotrop, em entrevista ao The AgriBiz na semana passada.

Atualmente, os bionematicidas são o segundo principal mercado da indústria de defensivos biológicos, só atrás dos bioinseticidas. Segundo o estudo anual FarmTrak Biológicos, realizado pela Kynetec Brasil, os bionematicias somaram US$ 344 milhões em vendas (quase R$ 2 bilhões) na safra 2023/24, o equivalente a 43% do mercado brasileiro de biodefensivos.

Na Syngenta, o discurso é de complementariedade entre biológicos e químicos. Ainda que o Tymirium tenha potencial para substituir os bionematicidas no tratamento de sementes com ganhos de produtividade, os executivos da companhia estão consistentes no papel dos biológicos na regeneração do solo.

“O controle químico pode e deve ser agregado ao controle biológico. O Tymirium pode ser aplicado de forma conjunta com biológicos. Quando pensamos em biológicos, queremos recompor a microbiota do solo. O químico teria uma ação mais de choque e o biológico de reconstituição do solo a longo prazo”, resumiu Godinho, que atuou nas pesquisas da Syngenta.