Plano Safra

No Sicredi, as novas regras do CMN não fazem cócegas

“A regra muda pouco para nós. Quase tudo do nosso depósito à vista já vai para o agro", disse Gustavo Freitas, diretor da cooperativa de crédito

Sicredi

No primeiro Plano Safra após o aperto do CMN (Conselho Monetário Nacional) sobre os depósitos à vista das cooperativas de crédito, o Sicredi espera um impacto limitado (ou até nulo) sobre suas operações.

Na prática, o regulador definiu que as cooperativas serão obrigadas a destinar uma parcela dos depósitos à vista ao crédito rural, se aproximando gradualmente de uma obrigação que sempre valeu para os bancos tradicionais.

Na safra 2025/26, que começou oficialmente na terça-feira, a cooperativas de crédito terão de destinar 6% dos depósitos à vista ao crédito rural. Ao longo dos próximos quatro anos, esse patamar vai subir, convergindo aos 31,5% que são aplicados aos bancos no ciclo 2028/29.

“A regra muda pouco para nós. Nós já tínhamos a exigibilidade para a poupança rural e para LCA. A única diferença era no depósito à vista. Mas quase tudo do nosso depósito à vista já vai para o agro, principalmente para Pronaf e Pronamp”, disse Gustavo Freitas, diretor de negócios, crédito e produtos do Sicredi, em entrevista a jornalistas nesta quarta-feira.

Em dezembro, os depósitos à vista contribuíam com R$ 37 bilhões do funding total do Sicredi. É mais que os recursos advindos da poupança (R$ 33 bilhões) e menos do que os recursos captados via LCAs, que somaram R$ 43 bilhões no ano passado.

Freitas lembrou que, até dezembro do ano passado — os últimos dados disponíveis — o Sicredi era o principal tomador de DIR (Depósito Interfinanceiro Rural), um tipo de título usado por bancos para direcionar recursos para o crédito rural, de olho em cumprirem os critérios de exigibilidade.

“Nenhuma instituição tomava tanto recurso de depósito à vista dos demais para fazer a aplicação no agro. Então, para nós, é uma exigência a mais, um custo de observância a mais, mas do ponto de vista do agro versus isso, normal, não tem tanta diferença”, frisou. 

De olho na safra 2025/26, o Sicredi prevê um aumento de 10% no volume de recursos destinados aos produtores, chegando a R$ 68 bilhões. Nas linhas tradicionais de custeio — Pronaf, Pronamp e demais produtores — a cooperativa prevê emprestar R$ 24,3 bilhões, uma queda de 8,3% em relação aos R$ 26,5 bilhões liberados na safra 2024/25.

Essa diferença, no entanto, não significa que vai faltar dinheiro para o custeio, explicou Vitor Moraes, superintendente de agronegócio do Sicredi. “O custeio não cai. A forma como eu atendo a esse custeio muda. Nossa visão é que grandes produtores vão acessar isso por outras vias, principalmente o financiamento em dólar, que tem um custo de 70% da Selic, em média, ou mesmo CPRs”, explicou.

Para a próxima safra, a expectativa é que os empréstimos feitos a partir de CPRs somem R$ 24,6 bilhões, um aumento de 30% em relação à safra anterior. As linhas de crédito dolarizadas devem somar R$ 4,9 bilhões, salto de 22,5%.

Ano de cautela

No Sicoob, segunda maior cooperativa de crédito do País, o montante destinado em empréstimos via CPRs deve ser de R$ 22,2 bilhões na safra 2025/26, um crescimento de 24% em relação à safra passada. No custeio, serão R$ 24,6 bilhões, somados, ainda, a R$ 9 bilhões em investimentos. 

A cooperativa prevê, ao todo, um aumento de 8% no volume de recursos para a safra 2025/26, somando R$ 60 bilhões. Cerca de 30% do total será direcionado a pequenos e médios produtores rurais, via Pronaf (R$ 7,2 bilhões) e Pronamp (R$ 10,8 bilhões).

Em coletiva de imprensa na manhã desta quarta-feira, Francisco Reposse Júnior, diretor comercial do Sicoob, voltou a ressaltar o perfil de um ano de maior cautela e seletividade nas operações de crédito, considerando o atual patamar da Selic.

 “O remédio que cura também pode matar. Temos a responsabilidade de orientar os cooperados”, alertou, destacando que o momento atual não é o mais propício para investimentos.

“Em operações de cinco a seis anos, com taxa de juros de dois dígitos, é preciso refletir se esse é o momento de fazer aquele investimento”. Atualmente, o agronegócio representa 34,5% da carteira total da Sicoob.