Usinas

Os bastidores da entrada do BTG no Grupo Virgolino de Oliveira

Pela estrutura da operação, o BTG está posicionado estrategicamente para assumir as usinas sucroalcooleiras que irão à leilão

A área de special situations do BTG Pactual mudou a trajetória do Grupo Virgolino de Oliveira, reabrindo um caminho para uma companhia que caiu em desgraça após dar um calote bilionário em credores internacionais.

Depois de uma negociação que começou em janeiro, o banco não apenas emprestou os recursos que viabilizaram a aprovação do novo plano de recuperação judicial. Pela estrutura da operação, o BTG está posicionado estrategicamente para assumir as usinas sucroalcooleiras que irão a leilão.

Na terça-feira, a assembleia de credores do GVO — como o Grupo Virgolino de Oliveira também é conhecido — aprovou o novo plano de recuperação judicial por larga margem (87,7%), mostrou uma reportagem do Pipeline.

Com isso, o grupo sucroalcooleiro levantou R$ 185 milhões com o BTG por meio de três DIPs — um tipo de financiamento que é feito no âmbito da recuperação judicial e dá prioridade de recebimento ao credor.

O financiamento concedido pelo BTG resolve uma “disfuncionalidade” do plano de recuperação anterior, permitindo que o GVO pague os credores trabalhistas, disse uma fonte.

Antes do novo plano de recuperação, havia um risco concreto de pagar apenas os detentores de bonds — que detêm uma das três usinas que serão leiloadas em garantia, deixando os trabalhadores sem receber. Agora, isso foi resolvido.

As garantias do BTG

Do total concedido pelo BTG, R$ 100 milhões estão atrelados à quitação das dívidas do GVO com os credores trabalhistas. Somados aos R$ 40 milhões que a companhia receberá da Copersucar em razão dos processos relacionados aos precatórios do IAA (o antigo  Instituto do Açúcar e do Álcool) , o grupo resolverá o passivo com os trabalhadores.

Nessa tranche de R$ 100 milhões, o BTG ficou com a usina de José Bonifácio, no interior de São Paulo, em garantia. No leilão que ainda precisa ser agendado, o GVO vai oferecer a usina aos demais interessados. Pelos termos do acordo, o BTG terá preferência de cobrir as ofertas. No limite, o banco pode ficar com essa unidade.

Além disso, a usina localizada em Monções, também no interior paulista, está dada em garantia aos bondholders. Até o ano passado, diversos investidores possuíam esses bonds, entre eles CarVal, Moneda, AllianceBernstein e Argentem Creek Partners.

Nos últimos meses, no entanto, o BTG comprou a posição de todos eles, o que o tornou praticamente o único credor. No limite, se o leilão da usina de Monções não prosperar, o BTG também poderia ficar com a planta.

Apesar dessa possibilidade, a expectativa dos envolvidos é que os leilões sejam “concorridos”. Nesse sentido, uma fonte lembra que players como Cofco, Uisa, Balbo e Santa Isabel chegaram a demonstrar interesse pelos ativos na versão anterior do plano de recuperação judicial.

Uma retomada para o GVO

A costura feita pelo BTG incluiu ainda um DIP de R$ 35 milhões para capital de giro, permitindo que o GVO tenha recursos para comprar cana de fornecedores e operar a usina de Catanduva, e um empréstimo de R$ 50 milhões para a indenizar a Itajobi pelos investimentos que fez no plantio de cana em uma das fazendas do GVO que vai a leilão.

“O BTG deu uma chance de recomeço para o Grupo Virgolino de Oliveira, que agora terá as condições de rodar a usina de Catanduva”, disse outra fonte ao The AgriBiz, lembrando que a atual safra é a primeira que usina conseguirá operar comercialmente em muito tempo. No ano passado, a usina de Catanduva só conseguiu moer cana como prestadora de serviço.

Ao fim do processo, o GVO emergirá da recuperação judicial preparado para gradualmente aumentar a moagem na usina Cadantuva — o único ativo que restará com a família Oliveira —, saindo das atuais 1,2 milhão de toneladas por safra para mais de 4 milhões de toneladas de cana num horizonte de cinco anos.

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Em seu auge, em 2013, o Grupo Virgolino de Oliveira chegou a moer mais de 11 milhões de toneladas de cana por safra. A trajetória da companhia sucroalcooleira teve início em 1971, quando Carmen Ruete de Oliveira assumiu a usina de Catanduva — uma planta inaugurada na década de 1950.

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Makalu Partners e TWK assessoram o GVO na recuperação judicial.