
A Copersucar fez do limão, limonada — ou melhor: superou os problemas da seca e das queimadas e fez um saboroso caldo de cana. Mesmo diante de uma safra desafiadora, a empresa concluiu o ano fiscal encerrado em março com bons números.
O destaque foi o maior volume comercializado em 66 anos de história: considerando as operações no Brasil e no exterior, foram 15,6 milhões de toneladas de açúcar, 19,1 bilhões de litros de etanol e 43 milhões de metros cúbicos de gás natural por dia.
A receita foi de R$ 62,3 bilhões, alta de 15,3% na comparação com o ano passado, e o lucro líquido foi de R$ 402 milhões, alta de 43% na base anual — o terceiro maior resultado da Copersucar S.A.
A região Centro-Sul teve a segunda maior moagem da história na safra 2024/25, com 622 milhões de toneladas de cana. Com o processamento de 107 milhões de toneladas e uma quebra abaixo da média na região — de 2,7% ante 4,9% —, as usinas associadas da Copersucar ganharam participação de mercado pelo sétimo ano consecutivo.
O bom resultado foi puxado pelo recorde na exportação de açúcar. Segundo Thiago Struminski, diretor financeiro, o Brasil viveu em 2024/25 seu maior protagonismo no comércio global da commodity, respondendo por 86% da necessidade global do adoçante.
“Alguns países reduziram a presença, como a Índia e a Europa. A Alvean (trading da Copersucar) foi bem-sucedida em originar açúcar em outras geografias, como América Central e Ásia, e em conectar destinos como a China”, afirmou.
Também jogou a favor o crescimento na distribuição de etanol no mercado norte-americano, além de um bom desempenho das empresas do grupo — a Copersucar investiu mais de R$ 8 bilhões nos últimos 16 anos em aquisições e investimentos.
“A safra 2024/25 foi desafiadora e menor que 2023/24, que havia sido a maior da história. Vivemos um cenário macroeconômico com efeitos sobre as operações, como taxa de juros elevada, desvalorização cambial e inflação. E um ano difícil do ponto de vista da produção, com seca e queimadas. Mesmo assim, o portfólio se mostrou resiliente”, disse Tomas Manzano, presidente da Copersucar.
Manzano lembra que o CTC (Centro de Tecnologia Canavieira) teve o melhor resultado de sua história, no embalo de uma nova técnica de plantio de sementes sintéticas.
“Na logística, foi um ano excepcional, com o menor tempo de carregamento de navios do porto de Santos e uma boa integração entre os modais ferroviário e rodoviário”, acrescentou.
Crescimento nos EUA
O bom resultado foi puxado pelo desempenho das operações no exterior, onde a empresa atua em açúcar via Alvean e em etanol por meio da Evolua, uma parceria com a Vibra que teve um retorno sobre o investimento de 40%.
Mas o principal vetor para o resultado global foi mesmo o crescimento de 23,4% nas vendas nos EUA, onde a companhia atua em etanol de milho via Eco-Energy. O saldo final refletiu a entrada de novas destilarias parceiras, a aceleração dos preços do gás natural e o fechamento de contratos de longo prazo que renderam 15% de participação no mercado norte-americano de etanol.
“No Brasil, o açúcar contribuiu mais que etanol na rentabilidade, mas sem impacto direto na receita”, explicou Struminski. Segundo ele, o mix foi mais açucareiro, mas acabou ficando abaixo dos 50% por problemas na qualidade da cana.
Neste ano, afirma, a moagem começou com índice melhor. “A gente estima que possa superar 50% de açúcar em 2025/26, com uma produção de 40 a 41 milhões de toneladas no Centro-Sul”, afirmou.
De olho no biometano
A Copersucar inaugurou, em setembro, uma operação em energia elétrica renovável por meio de uma parceria com a NewCom, comercializadora de energia da Comerc. As usinas da Copersucar geraram 6,7 mil GWh de energia de biomassa, o suficiente para abastecer por um ano a cidade de Rotterdam, na Holanda.
A companhia deu início a pesquisas para desenvolver biometano — o piloto na safra 2024/25 já resultou em um saldo de 2 milhões de litros de diesel evitados na operação logística interna.
A empresa agora se prepara para se tornar uma operadora de biometano, seja produzindo nas usinas ou em atividades de compra e venda. Com preço competitivo frente aos combustíveis fósseis, o biometano — um biogás purificado produzido a partir dos resíduos da cana — tem aplicações em indústria, transporte, energia e fabricação de fertilizantes, com redução de 90% na emissão de CO2.
Para os próximos dez anos, o objetivo é reproduzir o modelo canavieiro, com usinas produzindo e a companhia comercializando e distribuindo entre 2 e 4 milhões de m3 de biometano por dia.
“Além de reduzir custos na cadeia, também incrementa a redução do carbono. A gente espera que esse mercado se torne muito relevante, com grande escala”, disse o CEO Manzano.
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No ano passado, a Copersucar, que nasceu como uma cooperativa de produtores e usineiros em 1959 e virou companhia aberta em 2008, fez negócios em 70 países. No Brasil, a Copersucar tem 38 usinas associadas, além de 26 destilarias exclusivas nos EUA que produzem etanol de milho.
Também tem a maior capacidade de armazenagem no setor para ambas as commodities: 4 milhões de toneladas de açúcar e 3 bilhões de metros cúbicos de etanol.