Opinião

A encruzilhada pós-colheita: um balanço da inadimplência nas revendas

Estima-se que as revendas de insumos ainda tenham, em média, 10% de seus créditos a receber, o que é bastante alto

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Passados 45 dias do emblemático 30 de abril, o agronegócio brasileiro faz um balanço de seus compromissos financeiros. A data, um marco para a quitação de dívidas da safra, revela um cenário que, embora esperado, não deixa de ser desafiador.

Em uma análise direta, estima-se que as revendas de insumos ainda tenham, em média, 10% de seus créditos a receber. Este número, contudo, esconde uma alta dispersão: enquanto algumas operam com uma carteira quase regularizada, com apenas 3% de atraso, outras enfrentam um cenário crítico, com até 30% de pendências.

Historicamente, os percentuais de atraso para o período ficavam entre 3% e 5%. A diferença atual não surpreende. Todos no setor estavam cientes de que os resultados de uma safra desafiadora se materializariam em dificuldades de caixa para o produtor, que não teria recursos para honrar todos os compromissos na data prevista.

Este prazo de 45 dias é um divisor de águas; a partir de agora, a pressão por uma resolução aumenta e o ritmo de pagamentos tende a diminuir, concentrando-se nos casos mais críticos.

As Perguntas que Definem o Jogo

Neste momento, duas questões centrais emergem e ditam as estratégias de credores e devedores:

  1. Qual a posição dos credores na hierarquia de pagamentos do produtor? Não é segredo que o produtor rural organiza suas contas por prioridade, pagando-as conforme a entrada de capital. As revendas, por sua vez, replicam um comportamento similar com seus fornecedores da indústria. Essa hierarquia é um equilíbrio delicado, definido pela força do relacionamento e pelo grau de dependência para a próxima safra. É um jogo estratégico complexo, travado neste momento pelas lideranças do agro em todo o Brasil.
  2. Que fatia dos 10% será rolada para a próxima safra? O caixa do produtor rural é reabastecido em dois momentos-chave: a colheita da soja (março/abril) e a do milho (julho/agosto). Sem a entrada de novos recursos, as contas que permanecem em aberto inevitavelmente terão que aguardar o próximo ciclo. Quando a safra fecha no prejuízo, a tendência natural é postergar os compromissos financeiros.

Os caminhos possíveis

Aqui, reside o ponto chave do problema: a margem de lucro de uma revenda é, frequentemente, inferior a 10%. Com um atraso médio que consome essa margem, torna-se inevitável que ela também atrase seus próprios pagamentos junto às indústrias.

Diante desta realidade, dois cenários se desenham:

  • O cenário desejável: a parceria fortalecida. É do melhor interesse de revendas e indústrias encontrar uma solução conjunta. Neste caminho, a revenda adota uma postura de total transparência, melhora sua governança e investe na clareza de suas operações. Em contrapartida, a indústria oferece um voto de confiança, apoia a parceira mais de perto e dobra a aposta na relação. A dívida é zerada no próximo ciclo, o volume de negócios aumenta e a parceria emerge mais forte da tempestade, sem danos permanentes.
  • O pior cenário: a ruptura de valor. A alternativa, na linguagem do mercado, é “quebrar os pratos”. A ruptura de relações comerciais, seguida de execuções judiciais, é o caminho mais destrutivo. Ele leva a uma deterioração geral do mercado, ao aumento de pedidos de Recuperação Judicial (RJs) e à aniquilação de valor para todos os envolvidos. Embora sempre se espere o melhor, este desfecho pode ser inevitável em alguns casos.

A oportunidade na crise

O que testemunhamos hoje é uma batalha feroz por liquidez em um mercado com o custo do dinheiro entre os mais altos da história recente. É exatamente neste ponto que soluções de crédito inteligentes e integradas cumprem um papel fundamental. Elas são a ferramenta que aumenta as chances do cenário desejável e reduz a probabilidade de um desfecho destrutivo.

Para a empresa que está com a “casa em ordem” e a governança em dia — idealmente amparada por plataformas com a Tarken que garantem essa organização —, a crise se transforma em uma excelente oportunidade. É o momento de capitalizar sobre a própria organização: aumentar a transparência com a indústria e os credores, sofisticar a gestão financeira e experimentar soluções de crédito inovadoras que ampliam a liquidez no curto prazo.

Em suma, o momento atual é um teste de resiliência. Aqueles que o enfrentarem com transparência, colaboração e tecnologia não apenas sobreviverão, mas construirão as bases para um futuro mais sólido e próspero.

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Luiz Tangari, colunista de The AgriBiz, é fundador da Tarken.