
Um ano atrás, eu riria alto se alguém dissesse que nós — um monte de nerds que respiram software até o osso — íamos nos meter com educação.
Vou contar a história de como chegamos até aqui.
Formar gente em crédito agro é difícil. Especialistas de crédito de outros setores — como crédito ao consumo, capital de giro para indústria, imóveis, etc. — trazem um conhecimento útil, mas que não pode ser aplicado diretamente.
O produtor, por exemplo, é um misto de pessoa física com pessoa jurídica, e tem um mapa de riscos completamente diferente de tudo que se vê por aí.
A distribuição, por outro lado, convive com níveis de alavancagem que fariam um gerente de bancão tradicional correr para as colinas. E ainda assim, estão lá — firmes, operando com capital, porque quem financia entende o jogo.
Para trabalhar com crédito no agro, é preciso entender de agricultura, saber quais insumos o produtor compra e como funciona essa dinâmica, entender de risco agronômico, de manejo da fazenda, de preços de commodities. O domínio central é o crédito, mas conhecer os domínios adjacentes é obrigatório para conseguir fazer análises úteis.
Se você trouxer gente do agro, mas de outras áreas, também vai ser difícil. A competência analítica e investigativa que o pessoal do crédito (e do financeiro) desenvolve não se repete nos times de vendas, marketing, P&D, geração de demanda ou logística. Tem muita gente boa, mas que não tem o chip instalado.
Existe ainda outra competência no crédito — super difícil de desenvolver, especialmente no início da carreira: saber dizer “não”. É um setor onde o drive de expansão é muito forte: a maioria dos executivos se formaram em times de vendas. Todo mundo tem gatilhos expansionistas.
Pra complicar, as melhores empresas do agro são mestres em construir relações hiper-pessoais com os produtores. Todo mundo se conhece, se visita, toma café junto. Aí chega o time de crédito querendo colocar processo, esteira, critério impessoal.
Ambos os reflexos (foco em expansão sobre redução de risco, foco em pessoalidade sobre impessoalidade) vão na contramão do que se espera de um profissional de finanças. Desligar esses gatilhos em alguém de vendas no agro, para transformá-lo em um profissional de crédito, não é fácil (e, muitas vezes, nem desejável).
A solução é formar
Se é difícil transplantar gente de outros setores da economia, e também de outras áreas do agro, o pessoal de crédito agro tende mesmo a se formar dentro das áreas de finanças nas empresas. E é isso que vemos na prática: carreiras longas em crédito, às vezes muitos anos na mesma empresa, ou com trocas pontuais conforme ganham senioridade.
Hoje, quando conversamos com as empresas e observamos o que tem estabelecida e funciona bem por aí, vemos o resultado do trabalho de um punhado de (valentes) pioneiros, hoje nos seus 50 e poucos anos, que formaram uma segunda leva de profissionais nos 30 e poucos, e agora uma turma nova começando a aprender.
Mas, como o agro não deixa ninguém entediado, o mundo mudou rápido — e o mercado (ou as sedes das multis, ou os financiadores, ou a pressão no balanço) passou a exigir que as empresas ampliem rapidamente sua governança (e, com isso, o headcount e a senioridade dos times).
E aí… todo mundo vai pescar na mesma lagoa. Só que a lagoa não dá conta. E a natureza da função torna difícil migrar profissionais de fora do agro ou de fora do crédito. E então… falta gente.
E quando falta gente, a solução é formar. Criar um formato educacional que acelere a formação de profissionais de crédito rápido o suficiente para suprir a demanda.
Está sendo legal ver os times de crédito das empresas do agro investindo cada vez mais no desenvolvimento dos seus times. Nós, da Tarken, vamos dar nossa humilde contribuição com um programa de formação que vai para a rua em breve — completando a história que comecei com este texto.
No meio de um mundo cada vez mais rápido, mais conectado, e muitas vezes mais caótico, saber mais virou vantagem competitiva. Times que conhecem o jogo — o campo, o crédito, os riscos — performam melhor. E eu aposto que a próxima grande evolução do financeiro no agro vai vir dessa nova geração de profissionais bem formados, resultado direto do investimento que as empresas estão fazendo agora.