
Em questão de horas, o Brasil terá os elementos que faltam para trazer alívio e circunscrever a emergência sanitária ao foco de gripe aviária detectado na semana passada em uma granja de matrizes no município Montenegro, no Rio Grande do Sul.
Ao que tudo indica, o alívio deve vir da cidade de Ipumirim, no oeste catarinense, outro importante polo de produção de aves. Até a manhã desta terça-feira, o Ministério da Agricultura deve anunciar o resultado da investigação sobre a possível ocorrência de gripe aviária em uma granja comercial no muncípio.
A expectativa é que os resultados dos exames laboratoriais sejam negativos. Até a oficialização, ninguém vai contar vitória antes da hora, até pela cautela típica de crises sanitárias como essas — que demandam uma comunicação azeitada com os países importadores, evitando ruídos.
Os resultados dos exames devem corroborar a hipótese de que a mortalidade dos frangos estaria relacionada a um sistema de aquecimento do local, e não ao vírus H5N1, apurou The AgriBiz.
“Diante do potencial que poderia ter, estamos conseguindo contornar relativamente bem”, disse uma fonte que acompanha o desenrolar da situação de perto.
A outra investigação em uma granja comercial, em Aguiarnópolis, no norte do Tocantins, também não parece ser um grande problema. O Ministério da Agricultura já sinalizou que a probabilidade de ser um caso de gripe aviária de alta patogenicidade é baixa.
“A análise preliminar das amostras coletadas revelou a presença de Influenza A, com baixa probabilidade de se tratar de amostra de alta patogenicidade, tendo em vista as características epidemiológicas, laboratoriais e clínicas observadas na investigação”, informou o ministério, em comunicado divulgado na noite de domingo.
Se assim for, as chances de rápida reversão dos embargos é boa. Com o foco restrito ao raio de 10 quilômetros que circunda a granja, o Ministério da Agricultura terá um trunfo relevante para retirar os embargos temporários à carne de frango do Brasil.
Impacto comercial
Neste momento, o País está proibido de exportar para mercados que representam mais de 40% da demanda, mas a circunscrição da gripe aviária à região de Montenegro pode ajudar a liberar outras regiões.
“Demonstrar que conseguimos deter o foco é um ativo que podemos usar para negociar a regionalização”, disse o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, em entrevista a jornalistas durante a tarde.
Em entrevista ao The AgriBiz, o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, disse que a situação descrita pelo ministro já começa a ocorrer, como prova a regionalização adotada por Reino Unido, Cuba e Bahrein. O Japão, importante importador, reiterou que o bloqueio é restrito à região onde a doença foi detectada.
Com o tempo, o Ministério da Agricultura quer adotar a regionalização em outros mercados relevantes, como China e União Europeia. Para isso, no entanto, será preciso demonstrar que a doença está controlada.
“À medida em que o tempo vai passando, a confiança dos mercados vai acontecendo. Muitos não precisam esperar os 28 dias para começar a regionalizar. Foi assim com doença de Newcastle. A China ficou só com o Rio Grande do Sul restrito”, argumentou Fávaro, lembrando do foco de Newcastle, no ano passado.
Os 28 dias citados pelo ministro da Agricultura são o prazo necessário para o País declarar-se livre da gripe aviária, caso não ocorram mais casos da doença em granjas comerciais — para esses efeitos, os casos em criações de substância ou aves silvestres não contam.
Tecnicamente, o prazo de 28 dias vai começar a contar na próxima quarta-feira, 21 de maio, um dia após a conclusão da desinfecção das granjas no foco do vírus em Montenegro.
Se o País ficar livre de casos nessas quatro semanas, “significa que o ciclo do vírus quebrou”, afirmou Fávaro, lembrando que, pela voracidade do H5N1, os 28 dias são suficientes para demonstrar que a situação foi controlada.