
O Brasil tem mais de 40% das exportações de carne de frango bloqueadas por causa do primeiro foco de gripe aviária em granja comercial registrado na semana passada, no Rio Grande do Sul. Até agora, China, União Europeia, Argentina, Uruguai, México, Chile, Coreia do Sul, África do Sul e Canadá suspenderam as importações do Brasil.
Juntos, esses países responderam por 43% das exportações de carne de frango no ano passado, o equivalente a US$ 4,1 bilhões, segundo dados do Ministério da Agricultura. Com US$ 9,74 bilhões em receita, a carne de frango foi um dos dez produtos mais exportados pelo Brasil em 2024.
Em volume, as suspensões afetam o equivalente a 35% das exportações brasileiras de frango, ou 1,8 milhão de toneladas — considerando como base o comércio realizado entre os parceiros em 2024.
Sozinha, a China, maior compradora do frango nacional, respondeu por US$ 1,2 bilhão das exportações, o equivalente a 561 mil toneladas.
Já a União Europeia comprou cerca de 4,5% em 2024, enquanto os países do Oriente Médio — que, até aqui, não anunciaram suspensões — compraram, em conjunto, cerca de 30% das exportações brasileiras de carne de frango.
O que dá um certo alívio aos exportadores brasileiros é a adoção do protocolo sanitário prevendo a regionalização de restrições comerciais em casos de emergência com três dos principais importadores da carne de frango brasileira: Emirados Árabes Unidos (o segundo maior), Japão (terceiro) e Arábia Saudita (quarto).
Essa negociação explica, inclusive, porque os países do Oriente Médio ainda não anunciaram embargos. Já o Japão, terceiro principal importador, vai deixar de comprar apenas do município de Montenegro, onde ocorreu a identificação do foco do vírus H5N1 — exatamente como determina o princípio da regionalização.
As Filipinas, país que vem apresentando forte crescimento nas importações do frango brasileiro, também já aprovaram a regionalização.
Qual a situação de momento?
O Mapa está investigando mais dois possíveis casos de gripe aviária em produções comerciais no País. Um deles é em Ipumirim, no oeste de Santa Catarina, e o outro é em Aguiarnópolis, no Tocantins. A expectativa é de que o resultado dos exames seja divulgado até o final desta segunda-feira.
Segundo nota do ministério divulgada na noite de domingo, a análise preliminar das amostras coletadas em Tocantins revelou a presença de Influenza A, “com baixa probabilidade de se tratar de amostra de alta patogenicidade, tendo em vista as características epidemiológicas, laboratoriais e clínicas observadas”.
No Rio Grande do Sul, o Mapa está investigando outra suspeita de gripe aviária em uma propriedade de subsistência. As amostras foram coletadas e enviadas ao Laboratório Federal de Defesa Agropecuária de São Paulo (LFDA-SP), em Campinas, e serão processadas hoje (19), com previsão de resultado até o fim do dia.
Outros trabalhos de investigação também estão em andamento em criações de subsistência nos estados do Ceará, Mato Grosso e Sergipe.
O ministério reforça que, por se tratar de criações de subsistência, esses casos não impactam o comércio internacional nem comprometem a segurança alimentar.
Reflexos sobre preços
O Brasil é responsável por cerca de 40% do comércio global de carne de frango, e, por isso, a redução das exportações brasileiras pode gerar um aumento nos preços dessa proteína no mercado internacional. Já no mercado interno, o efeito pode ser o inverso, com o aumento da oferta local pressionando os preços.
Na sexta-feira, não houve oscilação nos preços do frango, conforme apuração diária do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada). Mas os analistas destacaram a necessidade de esperar para ver os possíveis efeitos, já que “o escoamento proporcionado pela exportação tem grande influência sobre o equilíbrio doméstico dos preços”.
Em análise divulgada na sexta-feira, eles ainda lembraram que os embargos podem impactar não só o mercado de frango, mas também das carnes suína, bovina e do milho, altamente demandado pela indústria para alimentação das aves.
O Rio Grande do Sul é o terceiro maior produtor nacional e responde por 13,41% da produção brasileira de frango, segundo o relatório de 2024 da ABPA.