
O primeiro impacto comercial do foco de gripe aviária registrado numa granja comercial no Brasil veio da China. O principal importador da carne de frango brasileira suspendeu, por 60 dias, as importações brasileiras, informou na manhã desta sexta-feira o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro.
Mais tarde, União Europeia e Argentina também anunciaram suspensões das importações do Brasil.
No caso da China, o protocolo sanitário entre os parceiros comerciais prevê a suspensão automática das exportações de todo o País no caso de uma emergência sanitária. O ministro disse que ainda não há uma estimativa sobre o impacto financeiro da medida.
No ano passado, o país asiático importou mais de US$ 1 bilhão em carne de frango do Brasil. Em volume, foi responsável por 11% das exportações brasileiras de carne de frango, importando 562 mil toneladas.
Mas outros relevantes importadores, como o Japão, a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, adotaram, nos últimos anos, outro protocolo para casos de emergência como o atual. Assim, explicou Fávaro, eles devem embargar apenas o frango do Rio Grande do Sul, estado onde foi registrado o foco. Na sequência, o impacto deve ficar restrito a Montenegro, município onde está a granja afetada.
Desde que o Brasil registrou um foco de gripe aviária em aves silvestres, há exatamente dois anos, o governo vem trabalhando para flexibilizar o protocolo sanitário firmado com os importadores, privilegiando a regionalização. Mas, no caso da China, não houve evolução nesse sentido.
“Conseguimos segurar dois anos até que a gripe aviária atingisse uma granja comercial, o que não aconteceu em nenhum lugar do mundo. Isso permitiu que o Brasil trabalhasse a mudança de protocolo sanitário com vários países”, afirmou o ministro.
Fávaro disse que o governo brasileiro já comunicou o caso aos seus parceiros comerciais e decretou estado de emergência zoossanitária em Montenegro por 60 dias.
“Vamos avançar nas negociações com os países, demonstrar transparência e ter total agilidade no processo de higienização e bloqueio para que a gente rapidamente volte ao fluxo comercial”, disse o ministro.
A expectativa do ministério é que o caso seja solucionado entre 28 e 60 dias.
Mais tarde, o secretário-adjunto de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Marcel Moreira, informou que as exportações de todos os estados do Brasil também estão suspensas para a União Europeia. Segundo ele, a medida faz parte de acordos com o bloco que preveem bloqueios automáticos em caso de doenças em granjas.
No caso da Argentina, ainda segundo Moreira, o acordo com o país prevê o bloqueio da exportação da produção em um raio de até 10 km do foco da contaminação.
O foco
Na entrevista, o ministro da Agricultura deu mais detalhes sobre o caso. O foco foi confirmado por exames laboratoriais no início da noite de ontem em uma granja de matrizes, produtora de ovos férteis em Montenegro. Segundo fontes do mercado, a granja pertence à Vibra.
Inicialmente, 35 aves foram detectadas com o vírus, que acabou se espalhando rapidamente. “Foi feito o total extermínio para que a gente possa rapidamente conter o foco e voltar ao status sanitário”, disse. O exato número de animais mortos não foi informado pelo ministro.
O Rio Grande do Sul é um dos maiores polos de produção de frango do Brasil. O Estado é responsável por cerca de 11% dos abates de frango no País e respondeu por 13% das exportações em 2024, segundo dados da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal).
Fávaro reforçou ainda que a população não precisa temer o consumo de carne de aves e de ovos, pois não há risco para a saúde humana. O risco de contaminação está restrito a pessoas que eventualmente tenham manuseado o animal contaminado.
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A matéria foi atualizada para corrigir a informação de que o Rio Grande do Sul representa 11% dos abates de frango do País, e não 40% como o informado anteriormente — participação que corresponde ao Paraná.