
A reestruturação da Raízen, iniciada há seis meses com a chegada de Nelson Gomes como CEO, ainda vai levar pelo menos mais uma safra para mostrar os resultados — derrubando a dívida e recolocando a gigante de açúcar e etanol na roda da lucratividade.
Em teleconferência com analistas nesta quarta-feira, os principais executivos da Raízen reconheceram que os resultados do ano-safra iniciado em 1º de abril ainda serão desafiadores, com mais queima de caixa pela frente.
“Ainda vamos ter um consumo de caixa em 2025/26”, disse Rafael Bergman, diretor financeiro e de relações com investidores da Raízen.
Aos analistas, o executivo confirmou que a companhia continuará vendendo ativos para ajustar a estrutura de capital. “Todos os pontos estão sendo feitos para reduzir o tamanho da dívida”, acrescentou.
No fim da safra 2024/25, a dívida líquida da Raízen somava R$ 34,2 bilhões, um salto de quase 80% na comparação anual. Com isso, os indicadores de endividamento pioraram sensivelmente. Em 31 de março, a relação entre dívida líquida e Ebitda estava em 3,2 vezes — bem acima do alavancagem de 1,3 vezes registrada um ano atrás.
Não à toa, a Raízen está vendendo ativos, incluindo usinas de cana-de-açúcar — parte do core business da companhia. Na segunda-feira, por exemplo, a empresa anunciou a venda de uma usina em Leme, no interior paulista, por R$ 525 milhões. Foi a primeira venda de um complexo sucroalcooleiro na história do grupo.
Ao que tudo indica, outras usinas podem ser vendidas, mas não só. A reorganização inclui a venda dos ativos de geração distribuída (Raízen Power) e do negócio de distribuição de combustíveis de aviação. Neste último caso, a companhia contratou o Bank of America para assessorá-la na transação, informou a Bloomberg em uma reportagem publicada na semana passada.
O caminho para reverter o quadro negativo passa por decisões duras, que incluíram demissões. Segundo Bergman, a reestruturação busca tornar a gestão da Raízen mais simples, eliminando camadas.
Nesse processo, a companhia reduziu o back office — em outras palavras, fez cortes de pessoal — e trocou lideranças em busca de uma “redefiniçao de comportamento, estratégia e foco”, nas palavras do executivo. Desde a chegada do novo CEO, o choque cultural é um dos objetivos.
Apesar dos esforços, a Raízen reconhece que o processo é demorado. Segundo Gomes, o ambiente macroeconômico também não ajuda, com juros e inflação altos e muitas incertezas pairando sobre os preços das commodities.
Mesmo assim, ele confia que os resultados virão. “Tenho dificuldade em dar um timing exato. O que posso dizer é que temos uma série de processos em andamento. Esse primeiro ano é desafiador do ponto de vista da alavancagem, mas os desinvestimentos devem ganhar tração”, prometeu o CEO.
No mercado, ainda há muitas dúvidas. “As perspectivas continuam nubladas pelo processo de reestruturação e pelos diversos negócios envolvidos. Por isso, continuamos enxergando ambiguidade na trajetória futura”, escreveram os analistas da XP, em relatório.
Na bolsa, as ações da Raízen caíram 4,5% nesta quarta-feira — o quinto pior desempenho do Ibovespa —, refletindo as preocupações com a reestruturação e com os resultados operacionais.
No balanço do quarto trimestre da safra 2024/25, divulgado ontem à noite, a Raízen mostrou um Ebitda ajustado de R$ 1,7 bilhão, 38% aquém das estimativas dos analistas da XP.
Atualmente, a Raízen está avaliada em R$ 17,7 bilhões na B3. Em doze meses, as ações da companhia caem mais de 40%.
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As ações da Cosan, que controla a Raízen junto com a Shell, também estiveram entre as maiores baixas do Ibovespa. Nesta quarta-feira, os papéis da conglomerado de Rubens Ometto recuaram 2,1%.