
BRASÍLIA – O secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Guilherme Campos, está quebrando a cabeça para atender as demandas do setor nas negociações com a Fazenda para a elaboração do Plano Safra. “Com essa taxa de juros, está difícil. Muito difícil”, diz.
Enquanto o volume total de recursos deve voltar a bater um recorde, como indicou o próprio vice-presidente Geraldo Alckmin nesta quarta-feira, a principal preocupação de Campos está na equalização das taxas de juros, que inevitavelmente vão aumentar.
“Quando o Plano Safra foi anunciado no ano passado, a expectativa de equalização era de R$ 6,5 bilhões. Até o mês passado, a expectativa para o próximo Plano Safra estava em R$ 14 bilhões”, afirmou Campos a jornalistas durante evento da Abramilho (Associação Brasileira dos Produtores de Milho e Sorgo) realizado nesta quarta-feira, em Brasília.
Uma outra preocupação do governo é garantir recursos suficientes para o custeio, sem sacrificar os investimentos. Com as instituições financeiras restringindo o crédito para os agricultores em meio ao aumento da inadimplência e dos casos de recuperação judicial, a demanda de linhas para custeio no Plano Safra vai subir, avalia o secretário.
“Os agentes financeiros sofreram muito com a questão das RJs. Algumas linhas ficaram represadas”, afirmou.
Ao mesmo tempo, Campos ponderou que a demanda de crédito para investimentos continua alta, especialmente para armazenagem. “São muitos parâmetros nessa equação. Estamos trabalhando para chegar ao melhor modelo possível.”
Seguro Rural
Outro esforço do Mapa na elaboração do novo Plano Safra está em aumentar o orçamento para o seguro rural. Com a escassez de recursos do Tesouro, o ministério está estudando a possibilidade de transferir parte dos recursos do Proagro (uma compensação paga pelo governo a pequenos produtores por perdas climáticas) para o seguro rural.
Segundo o secretário, a ideia é transferir de R$ 3 bilhões a R$ 4 bilhões do Proagro para o seguro agrícola, que há anos tem um orçamento de aproximadamente R$ 1 bilhão no âmbito do Plano Safra (quando não há contingenciamento).
“Não vamos conseguir chegar aos R$ 6 bilhões pedidos pela CNA para o seguro rural. Mas já seria um grande avanço”, disse Campos. “Estamos correndo contra o tempo para fazer essa proposta.”
Questionado sobre uma possível resistência do MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário) para essa migração de recursos, Campos disse que já há uma sobreposição de produtores, que naturalmente acabaram substituindo o Proagro pelo seguro rural depois do endurecimento das regras para a tomada de recursos do programa destinado à agricultura familiar.
Ao comentar sobre a elaboração do Plano Safra durante o congresso da Abramilho, Alckmin confirmou os esforços do governo: “O seguro agrícola vai ter que crescer, porque as mudanças climáticas são uma realidade.”
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A jornalista viajou a Brasília a convite da Abramilho.