
Os maiores pecuaristas de leite do País já mostraram que podem ser rentáveis e altamente produtivos, mas a cadeia ainda precisa destravar aquele que talvez seja o maior gargalo para que a revolução da produtividade se espraie por todo o País: o acesso a crédito.
Com recursos caros (a Selic não ajuda) e uma relação ainda pouco desenvolvida entre o mercado de capitais e os produtores de leite, a MilkPoint Ventures quer mudar essa trajetória, pavimentando o caminho para que os produtores consigam financiar os investimentos em produtividade de forma mais atrativa.
Ao lado de Luiz Leite, executivo que fez carreira no mercado financeiro (com passagens por bancos como BofA e Nomura), a MilkPoint criou a MilkPoint Capital, um braço para ajudar os produtores a estruturarem operações de crédito, levantando recursos com bancos, cooperativas ou no mercado de capitais.
“O setor está passando por uma transformação muito grande. A gestão do capital é o novo desafio para o produtor ter acesso a recursos a uma condição interessante para conseguir se endividar e investir sem colocar em risco o negócio”, disse Marcelo Carvalho, CEO da MilkPoint.
A MilkPoint Capital já nasce com a força da ampla rede de relacionamentos construída nos últimos 25 anos pela MilkPoint — são cerca de 40 mil produtores na base —, o que pode ajudar na atração de clientes para a nova empreitada.
Na outra ponta, Leite faz as conexões as instituições financeiras para obter o funding necessário para os investimentos, mas sem perder a conexão com o campo.
A relação do executivo com a pecuária leiteira vai além do sobrenome predestinado. Luiz Leite é filho de Maria Antonieta Guazzelli, dona da Agropecuária Rex, a décima segunda maior produtora de leite do Brasil — a fazenda da família, na mineira Boa Esperança, produz mais de 50 mil litros de leite por dia.
“Acompanhei de perto os investimentos que fizemos na fazenda ao longo dos anos, e os retornos, principalmente nos investimentos em conforto animal, são muito interessantes”, disse o executivo.
Pelos cálculos dele, investimentos em galpões para o confinamento, por exemplo, têm uma taxa interna de retorno da ordem de 30% ao ano, que é considerável mesmo com a Selic a 15% ao ano. Em alguns casos, como o confinamento do tipo Free Stall, o retorno anual pode ser ainda mais elevado.
“Os investimentos no leite têm retornos muito bons, além de serem essenciais para se manter competitivo na produção de leite, mas o Plano Safra está longe de suprir a necessidade de recursos, especialmente para quem está crescendo”, argumentou Leite.
A grande questão é que, para os projetos pararem de pé, os produtores precisam de linhas de financiamento de longo prazo. “Um galpão se paga entre três e quatro anos, enquanto outros investimentos podem levar mais tempo para se pagar”, afirmou.
Neste primeiro momento, as operações costuradas pela MilkPoint Capital devem ficar concentradas em crédito com bancos e cooperativas, mirando um custo de CDI + 3% ao ano para o cliente.
Com o tempo, o executivo também quer acessar o mercado de capitais para os produtores de leite, mas essa relação precisa se desenvolver. “Ainda existe um desencaixe entre o retorno que o investidor busca versus o custo de capital que o produtor quer pagar, principalmente para produtores médios e pequenos”.
Se a tese pegar, não será surpresa que os maiores produtores de leite passem a fazer parte do portfólio de Fiagros no longo prazo.