João Marcelo Dumoncel assume a cadeira de CEO da 3tentos em um momento auspicioso. Duas semanas depois de trocar de posto com o irmão, Luiz Osório, o executivo estreou na divulgação de resultados com um crescimento de pelo menos dois dígitos em indicadores-chave do balanço no primeiro trimestre de 2025.
A receita líquida aumentou 30%, para R$ 3,4 bilhões. O Ebitda (ajustado pelo valor presente do estoque de grãos) mais do que dobrou, para R$ 288 milhões. E o lucro líquido cresceu 23% na comparação anual, para R$ 192 milhões.
A grande estrela do período foi a safra recorde de soja no Mato Grosso. Com a colheita farta, a companhia conseguiu originar mais grãos. Com isso, não só aumentou a receita com as vendas de soja, mas principalmente melhorou a margem da operação industrial. Mais soja originada significou menos compra de matéria-prima de terceiros para processamento.
Detalhando esses efeitos, a divisão de grãos teve uma receita 87% maior do que a do mesmo período de 2024, somando R$ 1 bilhão. O volume comercializado de soja quase triplicou, somando 239 mil toneladas. Junto com esse aumento, o trigo também evoluiu bem no Rio Grande do Sul, crescendo 26% na comparação anual, totalizando 274 mil toneladas.
No segmento de indústria, a receita cresceu 20% ano a ano, somando R$ 1,8 bilhão, com ganho de margens. “O segmento como um todo tem trabalhado com margens melhores de processamento ao longo dos últimos anos. Elas estão em níveis muito bons em relação ao histórico”, disse João Marcelo Dumoncel, CEO da 3tentos, ao The AgriBiz.
O executivo não quantificou o aumento em relação à média em mais detalhes, mas, olhando para o balanço da 3tentos, o lucro bruto da divisão industrial saltou 59% na comparação anual, somando R$ 397,6 milhões. A margem bruta cresceu quase cinco pontos percentuais.
Novos mercados, mais capacidade
Além do cenário mais positivo de originação, a 3tentos tem esse resultado apoiado no aumento de capacidade produtiva e na abertura de novos mercados.
A Europa continua sendo um grande comprador de farelo, mas uma das regiões que mais tem crescido em demanda e nas quais a companhia tem feitos esforços para desenvolver mercado é o sudeste asiático, com destaque para a Indonésia, Vietnã e Filipinas.
Ainda na divisão industrial, a 3tentos também atribuiu os bons resultados do período à produção e venda de biodiesel. O CEO reforçou que não vê a demanda pelo biocombustível arrefecendo, mesmo com os atrasos do B15.
“A mistura está mantida, seguimos crescendo. Acredito bastante que o B15 vem em breve. O Brasil vai sediar a COP, existe uma mensagem importante a se passar para o mundo de que estamos investindo na descarbonização”, destacou.
Junto com o aumento de demanda, a 3tentos também vem expandindo sua capacidade produtiva. A indústria de Vera (MT) produzia, no início do ano passado, 2,6 mil toneladas por dia e, ao fim de março, esse número já era de 3 mil toneladas. Além disso, aumentou em 50% a capacidade da indústria de Cruz Alta (RS).
“No consolidado, dá em torno de 25% de aumento de capacidade geral de produção. Seguimos com os aumentos até o final do ciclo de investimentos no ano que vem, quando devemos ter um aumento de 60% em relação à capacidade de 2024”, explicou Dumoncel.
O capex para equalizar essa expansão, de R$ 2,12 bilhões até 2030, está mapeado. Metade do total virá de financiamentos e, a outra metade, da geração de caixa da empresa. “Fizemos a emissão de uma debênture incentivada e estamos com uma operação junto ao BNDES para o fundo clima, focada em biocombustíveis”, afirmou Dumoncel.
Financiamento ao produtor
Além dos financiamentos próprios, a 3tentos também quer avançar no financiamento ao produtor rural. A TentosCap, braço financeiro da companhia, recebeu uma autorização do Banco Central para ofertar crédito rural, num movimento que visa diversificar a carteira de crédito da companhia para além do crédito de mercado.
Com uma carteira de crédito de R$ 262 milhões ao fim de março, a TentosCap nasceu, originalmente, como um braço financeiro da 3tentos e, nesse primeiro ciclo, trabalhou principalmente na concessão de crédito ligado ao capital de giro do produtor, principalmente no financiamento da compra de insumos.
A partir da autorização do BC, esse financiamento de insumos será feito via TentosCap. De acordo com o CEO, não se trata de uma estratégia de balanço — uma vez que esse passivo sai, na prática, do balanço da 3tentos — mas sim de uma estratégia de ganho de competitividade e aumento de market share.
“É um movimento que vai melhorar nossa oferta ao produtor e nos tornar mais competitivos. Vamos comprar os produtos à vista, vender para o agricultor e quem vai financiar prazo safra é a TentosCap, com juros mais competitivos, a partir dessa autorização para operar crédito rural”, resume Dumoncel.
