
Na Kepler Weber, o primeiro trimestre foi marcado por queda em praticamente todas as linhas do balanço. Diante disso, a palavra de ordem é paciência até a próxima safra, quando a empresa espera uma recuperação.
O Ebitda caiu 41% em relação ao primeiro trimestre de 2024, para R$ 53 milhões, com margem de 14,8%, uma retração de 9 pontos percentuais. O lucro líquido somou R$ 25 milhões, uma redução de 51% na mesma comparação. A receita foi 6% inferior, totalizando R$ 357 milhões no trimestre.
A culpa, segundo a fabricante de silos, foi de uma combinação de juros elevados, restrição de crédito, queda nos preços das commodities e diminuição na renda do produtor.
Renato Arroyo, diretor financeiro e de relações com investidores, preferiu ver o copo meio cheio. Mesmo com a piora generalizada nos indicadores operacionais, a margem Ebitda está perto de 15%. Em contraste, no período de 2015 a 2017, quando os juros estiveram pela última vez no mesmo nível atual, a margem Ebitda estava abaixo de 5%.
“O preço da soja em baixa e os juros altos fizeram a empresa passar por um teste de estresse, mas com um resultado totalmente diferente. Hoje somos mais saudáveis”, afirmou a jornalistas nesta terça-feira.
Segundo CEO da companhia, Bernardo Nogueira, as margens devem continuar pressionadas no segundo trimestre. Mas ele segue confiante em uma retomada na segunda metade do ano, devido à colheita recorde em 2024/25, a melhoria na renda do produtor e um aumento no número de projetos em execução — hoje, são 284 obras em andamento no Brasil e no exterior.
“A safra 2024/25 é de novo abundante. Quando tem volume assim, aumenta o bolo e agrava o déficit logístico, tornando o sistema menos eficiente. Essa realidade joga a favor do nosso negócio”, disse Nogueira.
De qualquer forma, é preciso ter paciência, ele diz: “Existe uma janela de três a nove meses entre a negociação com os clientes e o reconhecimento da receita, conforme a entrega dos produtos. A maior parte das negociações é entre abril e outubro. Enxergamos o ano melhor do que o primeiro trimestre. E hoje a gente acredita que vai entrar em 2026 com um volume de negócios superior a 2025”, completou o CEO.
Plano Safra com juros mais altos
Os executivos da Kepler reforçaram a expectativa do mercado de taxas de juros mais altas no Plano Safra 2025/26, em elaboração pelo governo federal. “O que a gente enxerga para este próximo ciclo é que vai chegar um pouco mais de dinheiro na ponta, mas com juros mais caros, subindo de cerca de 7,5% para cerca de 10,5%”, disse Arroyo.
Segundo ele, há uma expectativa de que o governo dê mais atenção à demanda por infraestrutura diante da pressão inflacionária provocada pela alta nos alimentos. No entanto, dos quase R$ 8 bilhões previstos para investimentos em armazenagem em 2024/25, apenas cerca de R$ 3 bilhões foram de fato distribuídos.
Diversificação
Para enfrentar o momento de turbulência, a empresa voltou a destacar a diversificação de receitas, movimento iniciado em 2024 e que vem ganhando tração. A receita do negócio de Reposição e Serviços, que diz respeito à manutenção, subiu 28% na comparação anual, para R$ 73 milhões, representando 20% do total.
Nessa linha, a Kepler Weber anunciou uma parceria com a XP e a Procer, empresa que pertence à companhia e que monitora 2 mil unidades de armazenagem de grãos, para oferecer soluções financeiras para produtores rurais.
O cardápio de produtos que serão ofertados à base de clientes da Procer é amplo. Contempla desde serviços voltados à gestão de caixa, proteção de margens e operações de hedge, até gestão de risco, research, mercado de capitais, câmbio, antecipação de recebíveis, revisão tributária, wealth planning e seguros.
“Hoje temos 2 mil clientes conectados, e mais de 10 mil na base. Imediatamente todos eles receberão informação sobre os produtos da XP”, explicou o CEO.
Além de ter melhores oportunidades diante de clientes mais capitalizados, a Kepler Weber também projeta receber uma parte dos ganhos sobre os valores movimentados nesses serviços financeiros.
Em 2024, a Procer monitorou 60 milhões de toneladas de grãos, e movimentou mais de R$ 120 bilhões.
Dividendos
Os executivos também salientaram que a empresa ampliou nos últimos anos o percentual do lucro líquido distribuído aos acionistas na forma de dividendos ou juros sobre capital próprio, que saltou de 30% em 2021 para 75% em 2024.
A política permaneceu em 2025, dizem, com a distribuição, em abril, de R$ 70 milhões em dividendos — R$ 18 milhões obrigatórios e R$ 52 milhões facultativos. O valor, segundo o CEO, “demonstra que temos conforto na perspectiva de geração de caixa”.
Na bolsa, as ações da Kepler Weber apresentam queda de 19,7% nos últimos 12 meses. A companhia é avaliada em R$ 1,41 bilhão.